domingo, 3 de agosto de 2008

Borboreal - Cap. 32

Fazia frio tão alto no céu. A armadura térmica me protegia, por enquanto. Era difícil respirar, também. Mas eu continuava agarrado à chave-lança, enquanto me equilibrava em Tula.

Lá do alto, eu pude distinguir Los, embora não conseguisse olhá-lo diretamente. Era imenso: as grandes árvores da floresta sempre-viva deviam bater-lhe abaixo da cintura.

Mas eu estava bem mais alto. Só me questionava se seu urro chegaria tão alto, se poderia machucar Tula - eu deveria ter trazido uma armadura térmica para ela! Preocupava-me comigo, também, é claro.

Vi formigas começarem a se agrupar diante das tendas. Deviam ser os crocofantes. Perguntei-me se eles já sabiam de minha 'fuga'. Achei que sim, pois os crocofantes começaram a avançar - um número espantoso deles - a toda velocidade. E Los ainda estava próximo ao portão.

O que planejava a rainha?

Que falta faz um rádio de ondas curtas nas costas de Tula...

Pedi à minha uruguia que parasse de voar em círculos e começasse a se aproximar do portão. O vento era forte e a ajudava. Também me ajudaria, na hora certa. Eu havia treinado durante tantas noites, escondido, jogando-me das árvores...

Peguei o olho de jaguarade no meu bolso. Os batalhões atravessavam os campos que separavam a tenda do portão e se aproximavam de Los. O ser-estrela já havia percebido alguma coisa. Pôs sua mão escaldante no chão, devia senti-lo vibrar.

Agora, os cornocorpóreos começaram a sair da floresta e ir em direção ao portão. As árvores começaram a disparar projéteis que, ao atingirem Los, se desfaziam em fumaça.

Pedi a Tula que se apressasse e ela bateu as asas com toda força. Mas eu senti seu medo.

A que distância estávamos? Seria perto o suficiente?

Implorei a ela para continuar. Brava Tula, vencendo seu medo por mim.

Lá embaixo, os cornocorpóreos enrolavam-se sobre o próprio corpo e jogavam-se embaixo dos pés de Los, num ataque suicida. O monstro gritava ao pisá-los, perdia o equilíbrio, mas logo se aprumava. Em seguida, o primeiro batalhão de crocofantes - estes, obviamente, vestiam armaduras térmicas - começaram a atacá-lo. Subiam-lhe pelas pernas e mordiam. Los espremia-os entre os dedos.

O ser-estrela tomou fôlego e urrou. A força do calor jogou os crocofantes no chão. Nesse instante, os arqueiros de gelo já estavam posicionados: centenas de plurinogorfos espalhavam-se pelos céus e disparavam flechas congelantes, que deixavam marcas azuladas no monstro e aos poucos tornavam-se fumaça. Los urrou de novo, mas achei que, dessa vez, era de dor.

Agora já estava perto o suficiente.

Pedi a Tula que diminuísse a velocidade e voltasse para casa, em seguida. Abracei seu pescoço com força, beijei sua nuca.

E pulei no céu azul.

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