terça-feira, 5 de agosto de 2008

Borboreal - Cap. 34 - Final


Agora ficou fácil. Ajeito a armadura que me serve de asa, levanto o peito para diminuir a velocidade. A fechadura está tão perto que vejo o brilho de sua armação metálica.

Eu o vi se aproximando a toda velocidade da rainha. Ela mandara todos para o campo, quem a protegeria?

- Anácris! - gritei, em vão. E a vi despencar no chão


Muito, muito pouco, agora. Olhei para baixo e vi Los sair do transe como quem se colide com um poste. Ele tentou se equilibrar e olhar para cima, ao mesmo tempo, o que o fez cair sentado.

Muito, muito perto, agora. Eu estava perfeitamente alinhado ao buraco da fechadura. A chave parecia se atrair para ela.

O grupo de mágicos pareceu levar um baque, como se estivessem em um navio que se choca. A maioria parecia tonta, mas os mais perto da rainha correram para auxiliá-la.

Então senti o calor. A armadura térmica me protegeu das queimaduras, mas fui atirado para cima como um brinquedo. Los urrava. Aflito enquanto rodava pelo espaço, tentava fixar minha visão em Viramundo, sem conseguir.


A chave entrou. Fui jogado para a frente quando ela parou no fundo do mecanismo. Tive que me segurar com toda força que ainda tinha. Meus dedos enrijecidos pelo frio deslizaram por toda a superfície entalhada da lança. Parei com as mãos espremidas na fechadura e a gravidade me puxou.

Eu estava agora pendurado na lança, enquanto via o imenso buraco negro no céu ir se tornando luz vibrante - azul,verde, laranja e amarela.

Ao mesmo tempo, era como se anoitecesse abaixo de mim. Deixei minha cabeça pender para baixo mas, antes de constatar que Los se extinguia, fui atingido pelo calor.

Enfim, consegui recuperar meu controle. Havia sido jogado para longe pelo calor. Estava agora atrás da linha dos mágicos.

A luz havia desaparecido.

Viramundo fechara Borboreal! O portão da luz voltara a emanar suas cores.

Olhei para a rainha, deitada no solo queimado pelas tantas batalhas. Ela não parecia respirar. Tentei achar seu assassino, mas eles são muito rápidos.

Comecei a voar em sua direção, quando me dei conta: como é que Viramundo ia descer de lá? Ele saberia usar a torre de vento? Olhei para cima e o vi caindo


Já não sentia meu corpo, todo queimado pelo urro. Eu deveria ter pensado que poderia sobreviver... Devia ter combinado alguma coisa com Tula... Mas havia esquecido. Chamei-a, mas foi só um sopro sussurrado que saiu de meus lábios queimados.

Via a chave, que havia ficado na fechadura, se afastar muito veloz de mim. E o que importava?

Há pouco tempo atrás, eu era um covarde insignificante que podia ser usado como isca para assassinos.

Agora, eu era um herói em Paraíso.

'Seu' Josias sentiria orgulho de mim!

Voei em sua direção, com toda a força que tinha nas asas. Gritava a todos que salvassem Viramundo. Eu estava muito longe!

E meus pais? Provavelmente caçando 'Seu' Josias pro todo lado, a minha procura... Senti saudades de minha mãe. E isso me trouxe saudades da Rainha Anácris e de seus filhos, que eu nunca conheci. Eles agora poderiam voltar para casa, voltar para o amor de mãe da rainha, que eu só roçara durante nossas conversas. E cumprir a profecia da qual eu nunca participei.

Pensei ouvir meu nome ser chamado pela voz de Prosfrus.

Já não conseguia ver a chave. longe no céu. Não quis olhar para baixo. Ver o chão se aproximar. Pensei que nem sentiria o impacto.

E foi assim.

FIM (da primeira temporada)

2 comentários:

Augusto Galery disse...

A 'Saga dos Portões', como eu a chamo no silêncio das madrugadas, foi pensada como uma história em três partes, que pretendo publicar aqui, no Hiscas.

Com o fim de Borboreal, ficam faltando dois portões: Crevatolf e Aver'nus. Votem, aí à esquerda, na opção que mais os apetecer.

Ah, e antes que perguntem ou criem teorias: Sim, Viramundo morreu.

Augusto Galery disse...

Pelo que tudo indica em minha enquete, Crevatolf, a segunda temporada da Saga dos Portões será a próxima história. Começará dia 25/8 (pq até lá tou meio atolado...)