domingo, 3 de agosto de 2008

Borboreal - Cap. 33

Busquei meu peito com a mão esquerda e achei as alças da armadura térmica, como vinha treinando nas noites. Puxei-as levemente e elas se abriram como uma asa-delta. Deslizei pelo espaço, sentindo o vento me empurrar para o portão.

Na mão direita, apertava tão forte a lança que sentia meu coração pulsar nos dedos.

Lá embaixo, uma linha de pessoas se formava há alguma distância de Los, enquanto os crocofantes e os plurinogorfos continuavam a atacá-lo.

Um arrepio me passou pelas costas quando percebi que a uruguia havia diminuído a velocidade e agora voava em direção oposta ao portão. Por um instante, pensei que Viramundo havia desistido, o que teria colocado todos nós em sérios apuros.

Mas aí percebi o pequeno ponto planando pelo céu, em direção ao portão. Mesmo com o olho de jaguarade, não consegui entender como o garoto conseguia flutuar daquele jeito, mas eu perguntaria mais tarde.

Era preciso nos preparar para ajudá-lo.

Mandei que todos os magos, bruxos e feiticeiros se alinhassem e começamos a conjurar o encantamento. Cada um dos mágicos tirou seu cubo e começou a misturar os ingredientes na ordem e quantidade que eu havia ensinado.


Eu comandava os ataques dos outros plurinogorfos. Os arqueiros voavam à minha frente seguindo minhas ordens para escapar das mãos do ser-estrela. Los deu um urro e, por um instante, ficou livro dos ataques. Então eu pus tudo a perder, pois a curiosidade me forçou a procurar o garoto acima de nós. A uruguia voltava, mas eu pude ver o menino usando a armadura térmica como uma falsa asa para planar no céu. E Los me observava, naquele instante.

Senti o olhar de Los em mim. Olhei para baixo e ele me fitava, com olhos flamejantes. O ataque o distraíra momentaneamente, mas ele havia me percebido, agora.

Eu estaria alto o suficiente para escapar de seu urro? Pensei, tarde demais, que deveria ter trazido duas armaduras para mim.

O monstro parecia tomar fôlego. E eu pude perceber que ele abria a boca, com um leve sorriso. Certamente, devia ter percebido a chave em minhas mãos. E parecia se sentir seguro o suficiente para me dar a certeza de que eu morreria carbonizado.

Era a hora! Los havia percebido o plano. Mas todos os mágicos estavam prontos! Comecei a gritar palavras mágicas e todos me seguiram. Los abriu a boca.

Los abriu a boca. Fechei os olhos. Ouvi então um brevíssimo rugir e tudo ficou quieto. Uma lufada de ar quente me atingiu, fazendo com que eu subisse mais. Los não se movia.

Los não se movia! Ordenei aos arqueiros que parassem o ataque e olhei para cima. Viramundo subia no céu, levado pelo ar quente do início do urro de Los. Olhei para trás e para baixo e vi a linha de mágicos. Todos estavam concentrados, seus cubos abertos em direção ao monstro, suas faces retorcidas pelo esforço. Percebi que o encanto não duraria muito tempo: a luz que saia dos cubos em direção a Los ficava a cada instante mais fraca. Olhei para cima: seria o suficiente?

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