sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Borboreal - Cap. 31

Não consegui dormir, aquela noite. Era a excitação. Medo, também, confesso. Escrevi um bilhete com uma frase simples, endereçado aos amigos que havia feito: 'Seu' Josias, Prosfrus e a rainha Anácris.

Não sou príncipe, mas posso ser herói.

Peguei uma armadura térmica e alguma carne, para Tula. Depois, fui até a tenda principal. O guarda no portão acordou assustado - era muito cedo, estavam todos dormindo - mas, ao me ver, sorriu e relaxou. Eu tinha conversado um bom tempo com a rainha na noite anterior e disse a ele que havia esquecido algo na tenda. Ele me deixou entrar.

Peguei a chave - era mais pesada que uma lança, e nem um pouco flexível - e a apertei com força. Senti juntar-se ao seu peso o da responsabilidade pelo que eu estava fazendo. Mas eu era outro: não mais o menino covarde do começo da história! A lança pareceu brilhar por um instante, num brilho negro e pulsante.

Enrolei-a no cobertor que havia trazido e passei-a por debaixo da lona lateral da tenda. Rapidamente, sai - o guarda nem acordou - dei a volta e a peguei na relva.

E corri para fora do acampamento. Em direção à Tula.

Acordei com os gritos de Prosfrus. Era bem cedo, mas os batalhões já se agrupavam e saiam para a batalha diária com Los.

Ele me mostrou o bilhete com a letra engarranchada do menino.'Não sou príncipe, mas posso ser herói'. Um calafrio me atravessou a espinha. Corremos para a sala principal.

A chave havia sumido.

O guarda nos contou da visita de Viramundo à tenda, algumas horas antes.

Prosfrus gritava - Traidor! - mas tentei manter a calma. Juntar as peças do quebra-cabeça. A uruguia... Era tarde demais para impedi-lo. Talvez pudéssemos ajudá-lo.

Mandei Trestede chamar todos os magos, feiticeiros e bruxos que estivessem no acampamento, e que Prosfrus apressasse os batalhões para marcharem em direção ao portão. Todos que estivessem em condição de combater deveria ir para a batalha. Desejei que Viramundo fosse inteligente o suficiente para esperar a luta começar, o que distrairia Los.

Corri até o campo em frente às tendas e busquei o céu com um olho de jaguarade. Depois de procurar alguns instantes, achei a uruguia - tão alta que mal pude distinguir o menino em cima dela.

A uruguia voava em círculos. Ele esperava!

Os batalhões saíram apressados. Meu pequeno esquadrão de mágicos foi logo atrás, no lombo de crocofantes, carregando todo o tempo, luz e desejo que ainda tínhamos.

O céu começa a clarear. Estávamos nos aproximando de Los.

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