quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Crevatolf - Cap. 2

O portão não era tão grande quanto Borboreal. No meio do branco, parecia oprimido. Os quatro viajantes pararam à distância e os meninos e o metagorfo desceram do lombo do crocofante. O animal abriu a bocarra cheia de dentes para receber mais uma refeição. Mastigou o macapré devagar, apesar da sensação de avidez causada pela fome. Sabia que as rações ficariam escassas naquelas planícies onde tantas vezes penetrara, mas que, pela primeira vez, atravessava. Não queria ver Crevatolf, mas devia o esforço aos meninos.

Agora seriam poucos metros e poderia voltar para casa.

Já o casal de humanos não estava certo se voltaria.

Lembraram-se de tudo o que haviam passado, desde seu reencontro. Gabel não se lembrava da irmã - tinham se separado quando ele era recém-nascido - e se surpreendeu ao vê-la em seu portão, a universos de distância, na Terra.

Tinha oito anos quando a viu...

Eu voltava para casa de meus treinos. Os plurinogorfos que me criaram fizeram questão que eu treinasse atletismo desde quase bebê. Diziam que eu voltaria para Paraíso e precisaria estar pronto para a batalha. Como nunca me interessei pela magia, preferi cuidar do corpo.

Pranestrede me ensinava as lutas de Paraíso, e minha preferida era o suorca, luta corporal com espécies de adagas de duas pontas nos sapatos e luvas - oito pontas no total.

Quando cheguei em casa, uma garota de 16 anos estava sentada na porta, conversando com Pranestrede, que se mostrava humilde e, ao mesmo tempo, entusiasmado. A garota tinha cabelos loiros, olhos negros e um nariz exatamente igual ao meu. Vestia um macacão de material estranho e com diversos bolsos frouxos, que me pareciam pesados de tão cheios.

Mas o que agarrou minha atenção foi o pingente em seu pescoço. Era um pequeno cubo negro pendurado por um dos vértices. Símbolo dos mágicos.

Eu o reconheci imediatamente: era o colar que via todas as noites antes de dormir, ao olhar para o retrato pintado de minha mãe pendurado na parede de meu quarto.

Percebi, assim, que era hora de voltar para casa.

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