domingo, 14 de setembro de 2008

Crevatolf - Cap. 11

Uma semana levaram os preparativos para a viagem. Foi uma semana tensa para todos. Dois crocofantes foram selecionados, dentre os mais robustos, para nos auxiliar com as provisões. TayFor havia nos dado uma bandeira para que mostrássemos a qualquer de suas patrulhas que nos interpelasse, dentro ou fora dos muros.

- Mas não posso garantir que ninguém dentro dos muros respeite a minha palavra... - disse o primeiro vizir.

Assim, antes do amanhecer do oitavo dia, o grande portão de metal se levantou e saímos em comitiva. Trestede e Prosfrustrede nos acompanharam, assim como Fedoes. Além dos três, vieram cerca de 50 soldados, entre humanos - montados em crocofantes - e plurinogorfos - que cavalgavam cornocorpóreos. Carregavamos bom estoque de desejo, luz e tempo, que poderiam ser usados por mim, por Fedoes ou por alguns dos 5 outros mágicos que vieram conosco.

Apesar de querermos acreditar na palavra de TayFor, ficávamos em vigília, preparados para nos defender. Tínhamos um observador constante, que deveria voltar para a cidade de metal imediatamente, se fóssemos atacados: era Tula, a uruguia que havia conduzido Viramundo em sua vitória no portão de Borboreal.

Naquele instante, Hopo olhou para o céu. Lá estava ela, sobrevoando suas cabeças, tão alto que parecia uma minúscula cruz negra cortando o branco espaço do Sul de Paraíso. Eles já se conheciam e o metagorfo devia a vida à uruguia. Sorriu ao pensar que havia sido salvou por uma verdadeira heroína, e não por uma ave covarde e estúpida qualquer.

O frio ainda castigava o quarteto, na neve lá embaixo. Hopo não tinha idéia de que, ao saírem da cidade de metal, eles eram tantos.

Quando se conheceram, eram apenas Bea, Gabel e Tula. Ele entendia que a Zona Murada podia dizimar exércitos inteiros, mas não queria acreditar que todos aqueles heróis que tinham enfrentado Los e feito parte da história haviam...

Não teve coragem de completar o pensamento, muito menos de expressá-lo. Melhor era ficar quieto. E deixar Bea continuar a história.

Avançamos pela floresta sempre viva, observando as barracas do exército de TayFor se aproximarem. Fomos vistos pelos vigias nas torres e o ar se encheu com os sons altos, graves e fanhos dos didgeridoos.

Quando, enfim, saímos da floresta, todo o exército inimigo estava perfilado, deixando caminho para que passássemos. Trestede segurava o estandarte com a bandeira de paz bem alto, e notei que sua mão tremia com o estresse. O corredor nos levou até Pito, que estava em pé, próximo à barraca principal. Ele nos saldou e retribuímos. Percebemos que ele estava escolhendo suas palavras:

- O... [pigarro]... O rei... - e nos olhou de soslaio, mas diante de nosso silêncio, continuou. - O rei deixou seu... - nova pausa, novo olhar desconfiado - ...seu castelo à disposição da comitiva... Caso vocês queiram passar por Éden a caminho do Sul.

Éden, a cidade onde nascemos. E o castelo que o metagorfo se referia era o castelo de meus pais. Mas mantivemos nosso silêncio.

- Já sabem que caminho farão?

- Prefirimos seguir por outras vias. - disse, com uma voz de trovão, Prosfrus. - E precisamos ir, pois temos um planeta a atravessar.

Foi quando me dei conta do fato: estávamos no extremo norte do planeta, próximos a Borboreal. Crevatolf ficava quase no pólo sul. Seria uma viagem longa.

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