quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Crevatolf - Cap. 6

A primeira pessoa que conhecemos, ao chegar em Paraíso, foi Prosfrustrede. Ele e Trestede nos mostraram toda a cidade, que é banhada pelas luzes de Borboreal. Com suas diversas partes de metal polido, a cidade reflete as multicores do portão fechado, transformando todos os lugares em vitrais coloridos.

Bem no centro da cidade, ao lado de um regimento de plurinogorfos e guardada por oito crocofantes, está o túmulo de Viramundo, no qual se escreveu "Esquecido pelas profecias, nunca pelos amigos".

Abaixo dele, sabíamos que nossa mãe estava cristalizada no tempo, esperando por uma cura improvável.

A cidade era bastante militar: não havia comércio e os diferentes seres que ali habitavam eram remanescentes da batalha final contra Los. A floresta sempre-viva cercava toda a cidade, estendendo-se por um bom território (como conseguíamos ver de cima da muralha da cidade). Mas, com ajuda de olhos de jaguarade, era possível ver um exército ainda mais vasto acampado, impedindo a floresta de avançar.

Magos lançavam imensas bolas de fogo nas árvores e apodreciam o solo para que nada nascesse ali. Os cornocorpóreos se embrenhavam na floresta, tentando fugir das esquadras de bugrerões e corcoromeis que os caçavam por entre os troncos. Um equilíbrio havia se imposto: nem o exército do primeiro vizir conseguia avançar, nem as árvores.

Assim, relativamente a salvo, recomeçamos nosso treinamento, e foi dessa forma que passamos três anos. Ao mesmo tempo em que aprimorávamos nossas habilidades, buscávamos uma forma de sair cerco e seguir para o único destino que parecia certo: Crevatolf, o portão onde o desejo vira delírio...

Era raro termos notícias do que acontecia no Sul, sitiados como estávamos. Tudo o que sabíamos veio através de um bugrerão louco que foi capturado na floresta pelos cornocorpóreos.

O bugrerão viera a pouco tempo do sul. Sua bocarra vivia aberta, deixando exposta as diversas fileiras de dentes. O couro que revestia seu corpo, em geral brilhante nos seres da espécie, era opaco e úmido, como se suasse a frio todo o tempo.

Não conversa direito e seu olhar buscava repetidamente o chão, atrás de movimentos ocasionais de folhas levadas pelo vento. Ainda assim, soubemos que o primeiro vizir tinha muitos problemas no Sul. Talvez por isso não atacasse a cidade com todas as forças. O bugrerão se referia à loucura podre que invadira a região.

E tinha pânico ao se lembrar da poeira desejante...

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