sábado, 6 de setembro de 2008

Crevatolf - Cap. 8

Reunidos na praça em frente ao túmulo de Viramundo, os moradores da cidade de metal cochichavam entre si, enquanto uma imensa expectativa enchia o ar. Prosfrus e Trestede ficaram conosco, tentando fazer o papel de 'advogado do diabo' frente à nossa certeza do que deveria ser feito.

- A questão não é simplesmente ir até lá. Precisamos pensar no depois. - afirmou Trestede. - Se o primeiro vizir puder deslocar todo seu exército para cá, será que temos chance?

- Eu entendo o que você diz... - meu irmão ponderou. - E, no entanto, até quando ficaremos nesse impasse? A ida até Crevatolf não é simplesmente para fechar o portão. Algo mais deve acontecer. Vamos encontrar nosso pai...

- As profecias não são exatas... - disse Prosfrus. - E se o primeiro vizir estiver manipulando as coisas em direção a outro fim?

- A alternativa - eu ponderei - é ficar aqui, sentado em cima do traseiro, esperando algo que não aconteceu nos últimos três anos e não vai acontecer, pois as condições não vão mudar. Mesmo que saiamos às escondidas, assim que o portão for fechado o primeiro vizir vai saber.

- Então não feche o portão... - sugeriu Prosfrus. - Retorne com seu pai mas deixe a situação como está. A profecia não diz que é necessário fechar Crevatolf. Diz apenas que 'os portões vão estar de novo sob controle'.

- E, no meio tempo, vamos exigir do primeiro vizir algo que ele ame, como garantia de que vocês não serão feitos prisioneiros ou coisa que o valha, até que retornem...

Assim, naquela noite, transmitimos nossas idéias ao povo reunido na praça,que foi aceita por unanimidade.


Três dias depois, a floresta abriu caminho para três pessoas: Pito, o metagorfo, vinha acompanhado do primeiro vizir e de sua esposa, Amereida. Os cabelos da humana eram tão longos que se arrastariam no chão, se não fossem protegidos pelo longo véu que trazia preso à cabeça.

Ela era cega, mas o primeiro vizir a conduzia como se fosse uma dança de salão: a mão direita dela por sobre a esquerda dele, os braços levemente estendidos à frente, passos sincronizados.

O primeiro vizir - TayFor era seu nome - cuidava para que nenhuma pedra atrapalhasse o caminho da amada, manipulando um grande cajado com a mão direita.

Era uma imagem bonita, os dois caminhando juntos. Transmitiu-me amor, se posso dizer. Não pude deixar de ter menos ódio de TayFor. E, ao olhar para Prosfrus, já sabia quem ele exigiria que ficasse conosco, como refém.

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