domingo, 7 de setembro de 2008

Crevatolf - Cap. 9

Os portões da cidade foram abertos e a pequena comitiva entrou. A maioria dos nossos aliados ficou boquiaberta ao ver o primeiro vizir, ali. Bumarunos foi o primeiro a dirigir a palavra a ele:

- Muito corajoso de sua parte vir aqui, posto que ainda não aceitamos sua trégua.

TayFor encarou o crocofante sem medo, mas respeitosamente.

- Há coisas mais importantes que nossa guerra, comandante. - ele disse - E a situação no sul é uma dessas, certamente.

Os três foram guiados até o túmulo de Viramundo, que o primeiro vizir observou com curiosidade. Não conhecera o herói, mas admirava seus feitos. Observou seu rosto infantil, através do vidro que cobria o túmulo, sob o pedestal. Disse uma palavra que quase ninguém ouviu.

Mas o crocofante, que estava ao seu lado, escutou-a e surpreendeu-se. Mais tarde, Bumarunos nos contou: a palavra do primeiro vizir fora "obrigado".

TayFor parecia realmente cansado. Perguntei-me se era da guerra ou do poder. As histórias que ouvíamos a seu respeito, de antes do golpe, mostravam-no como um homem justo e humilde. E, longe do palácio de Paraíso, era assim que ele se portava.

E, no entanto, isso não mudava o fato dele ter usurpado o trono e tentado matar minha mãe.

Sentamo-nos, todos. No círculo central, TayFor e a esposa estavam frente a frente com Bumarunos, Fedoes, Prosfrustrede e Trestede. Logo atrás do casal, sentou-se Pito. Meu irmão e eu sentamos um pouco mais distantes, mantendo nossa identidade incógnita: éramos apenas mais dois humanos misturados à multidão.

As negociações começaram. Trestede expôs nossas condições e TayFor expôs as dele. Nessa hora, vi o brilho da cobiça voltar a seu olhar. Ele se recusou a falar sobre devolver o trono ou sobre o fim da guerra. Mas afirmou que não havia mais exércitos seus no sul que pudessem ser usados contra a cidade de metal.

- Não há mais nada lá. Muramos toda a região e temos alguns postos de vigia. Ainda há luta entre alguns poucos batalhões que permaneceram dentro dos muros... Mas nenhum deles vai ser fiel a mim, depois de levantarmos as paredes e prendê-los lá dentro... E duvido que algum deles ainda mantenha sua sanidade mental...

- Afinal, o que está acontecendo lá? - perguntou Prosfrus.

- Tem a ver com o portão... - disse Amereida, numa voz doce que contrastava com a firmeza da voz do marido. - O portão da casa da morte...

- Não sabemos ao certo... - disse o primeiro vizir. - Mas a nossa conclusão foi que...

Ele refletiu, algum tempo, ponderando sobre o que ia dizer.

- Os mortos escaparam do reino da morte pelo portão aberto...

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