quarta-feira, 14 de maio de 2008

Mata Verde - Cap. 11

Maria Fé reportou todo o caso para seu tio, o delegado. Os dois sentaram-se e tentaram - a princípio calmamente, mas cada vez mais exasperados - fazer com que Ricardo focasse no que era realmente importante: como aquele homem havia morrido.

Ao invés de se deixar convencer, o rapaz se tornava cada vez mais resistente. Quanto maior o esforço de Ameixeiras e de sua sobrinha de fazê-lo entender a situação, mais Ricardo tentava argumentar que eles estavam cegos pela superstição. O delegado havia algemado novamente Ricardo a Maria Fé e a discussão teria levado dias...

Mas o timming do destino muitas vezes ajuda o herói.

E, nesse ponto, tenho que deixar a história de Ricardo por um instante e me concentrar numa casa há alguns quarteirões dali. Na casa onde Rafaela Pinheiro terminava de dar banho em seu bebê.

O filho mais velho de Rafaela, Victor, lia revistinhas do alto de seus 4 anos, a um canto do quarto. Ele não exatamente lia, é claro. Sua vista passava de desenho para outro, irritado com o choro da criança e com o ninar murmurado da mãe.

A filha do meio, Clara, observava a mãe de perto, interessada no irmãozinho recém-nascido como se fosse um exótico animal marinho. Morreu de rir ao vê-lo fazer cocô na toalha, borrando a fralda próxima e encharcando de fezes líquidas a mão de Rafaela. Foi um suspiro cheio de impaciência que ela soltou!

E então a campainha tocou. Era Marconi Pinheiro que chegava do trabalho. Vinha, como sempre, acompanhado de Marta e João (irmão e cunhada que trabalhavam na mesma loja, se é que esses detalhes importam) e os dois provavelmente estavam com pressa, como sempre.

Suja de fezes, Rafaela não tinha como pegar o bebê. Clara era pequena demais para carregá-lo. Optou pelo mais simples: ordenou que Victor ficasse no quarto e saiu apressada para abrir a porta, tentando puxar uma Clara enojada, que queria acompanhá-la o mais longe possível daquelas mãos pegajosas e amarronzadas.

Se eu fosse psicanalista, diria que foi o inconsciente de Victor, enciumado e de saco cheio com os choros, que o fez não entender o que sua mãe dissera. Com os olhos fixos nos quadrinho, saiu atrás dela (depois, diria que a mãe o havia chamado para acompanhá-la).

E assim, o bebê ficou sozinho por alguns instantes.

Não muitos, é verdade. Rafaela abriu a porta, cumprimentou Marta e João, que cumprimentaram de volta, aos três que estavam junto à porta. Ao ouvir o 'oi, Victor', o coração de Rafaela parou por um instante. Ela gritou, agarrou o braço do marido e correu para o quarto.

Se eu tivesse um relógio, diria que o recém-nascido não ficou sozinho mais do que meio minuto.

Mas eu sou rápida.

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