domingo, 18 de maio de 2008

Mata Verde - Cap. 13

Tenho a impressão que foi o irmão e a cunhada de Marconi que conseguiram encontrar o delegado e trazê-lo, correndo. Ele entrou no quarto das crianças Pinheiro e não penso que se lembrasse da existência de Ricardo Araucária.

Mas Maria Fé lembrava. Puxava-o pelo braço, querendo que ele entendesse o que estava acontecendo ali.

E ele entendeu. Viu o desespero da mãe, jogada de joelhos aos pés do delegado. Viu o pai brandindo o cinto e gritando o nome de Victor que, Ricardo provavelmente intuiu, era a criança sentada no chão, encolhida, que parecia catatônica. Viu que eram necessárias três pessoas para segurar a fúria do pai.

Ouviu a mãe implorar para que o delegado não prendesse o filho e, estou certa - rapaz inteligente como ele é - que entendeu, pelas súplicas da mãe, que Victor poderia ser acusado de assassinato por ter deixado o bebê sozinho.

Enfim, enquanto todo mundo tentava resolver alguma crise, Maria Fé puxou Ricardo até o berço.

E ele entendeu que não devia ficar sozinho em Mata Verde. Ficamos tão próximos, eu, de um lado do berço, arrotando a podridão em que havia transformado a alma do recém-perecido, e ele e Maria Fé, do outro lado, sentindo o cheiro de meus gases, retorcendo o nariz.

Se ainda restava alguma dúvida para Ricardo, ela fez as malas quando ele tocou o pequeno cadáver e percebeu que o corpo ainda estava quente.

No canto, um dos homens que tentava segurar o pai sangrava em decorrência de um soco que Marconi havia acertado ao tentar se livrar. Ele agora se acalmava e os três conseguiram fazê-lo sentar no chão.

O delegado levantara Rafaela e a abraçava, enquanto ela chorava copiosamente.

Victor continuava catatônico.

Tudo isso entrava na mente arguta do jovem Araucária e, mais uma vez, eu percebi que poderia me apaixonar por aquele homem belo e inteligente, se a situação fosse diferente.

Mas não era. Por isso eu teria que me contentar em esperar um descuido... E beber sua alma.

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