quinta-feira, 13 de março de 2008

Duplo Homicídio - Cap. 4

J. K. chegou em casa às 20h00. Sua esposa, professora universitária, só estaria de volta depois das 23h00. As 'crianças' estavam em outra cidade, cursando faculdade.

Ele sentou-se sozinho no sofá. Pensou no amigo, que ainda devia estar delegacia. Quis ligar para ele. Achou que não tinha o direito. As brincadeiras haviam deixado de ser brincadeira há tempo. Sentiam tesão um pelo outro e ficava cada vez mais difícil negar. Vargas o encurralava o tempo todo, mas J. K. não queria enganar a esposa. E ele sabia que era só isso: seu sentimento de honra com a mulher era a única coisa que o mantinha longe de Vargas. Sorriu, pensando se isso, por si só, já não era traição o suficiente.

Foi até o armário e tirou o copo com letras. Há alguns anos, o psiquiatra o havia convencido que era ele quem empurrava o copo. E que era seu inconsciente que falava com ele.

Ele nunca contou ao médico das vezes em que sentia uma corrente elétrica e tirava o dedo, e de tudo que o copo lhe dizia nessas ocasiões. Achou que, se contasse, ia piorar a situação.

Esparramou as letras no chão e desejou conversar com seu inconsciente: ele lhe responderia se a escolha devia ser feita? Se devia se entregar a Vargas ou se devia continuar a farsa civilizada com a esposa?

No entanto, seu dedo pareceu eletrocutar-se quando o copo partiu, descontrolado. Recolheu a mão e repetiu alto as letras:
F-R-E-N-T-E-A-F-R-E-N-T-E-C-O-M-A-R-M-A

O copo caiu. Frente a frente com arma? Intuiu que era a respeito do caso que começara no dia anterior.

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