quarta-feira, 2 de julho de 2008

Borboreal - Cap. 15

Houve essa excursão do colégio ao Parque Municipal. Eu me sentia distante dos outros meninos e isso acabou me rendendo a fama de esquisito, nos últimos tempos. Sentei-me para apreciar os raios de sol que passavam entre as árvores e imaginei que talvez um desses raios pudesse ser manipulável.

Vi 'Seu' Josias na entrada do parque e acenei para ele. Era estranho saber que eu tinha essa espécie de guarda-costas mutante e não pude deixar de me sentir um pouco como John Connor nos filmes do Exterminador do Futuro.

'Seu' Josias não me respondeu. Ao invés disso, afastou-se apressado, como se meu aceno fosse um alerta de perigo. Então senti o balão de água explodir em minhas costas, me encharcando inteiro. Virei para trás e dois de meus colegas gargalhavam, apontando para mim.

- Ó o filho do homem do saco!! - gritou o primeiro, e gargalharam.

- Ó o amante de negro! - gritou o outro, o que realmente me tirou do sério. Enfiei meu punho na boca do imbecil, sentindo-o esparramar no chão como um monte de muco esverdeado. A professora começou a gritar, correndo em nossa direção. Eu imaginei o que viria daí e tomei uma decisão: corri atrás de 'Seu' Josias. Por que ele havia fugido de mim? Ele não deveria me proteger?

Corri para a saída do parque e alcancei a Av. dos Andradas a tempo de vê-lo virar na Alameda Álvaro Celso. Eu o persegui até a Bernardo Monteiro, me aproximando aos poucos. Ele já estava à distância de um grito quando virou na frente do Colégio Arnaldo.

Foi tudo tão rápido. Ele sumiu por trás de uma árvore e eu coloquei toda minha força nas pernas para alcançá-lo. Quando contornei a árvore, ele estava no chão. As pernas abertas, os olhos esbugalhados. Da boca, uma gosma azulada saia. Mais uma vez, ele pareceu sair de foco, mas dessa vez não assumiu outra feição. Seus traços humanos sumiram, como se ele fosse um desses bonecos de simulação de acidente de carro. Havia quatro furos no seu peito, um bem perto da garganta, os outros formando os vértices de um quadrado, nos dois lados do peito e no estômago. E eu entendi: ele estava morto.

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