quinta-feira, 10 de julho de 2008

Borboreal - Cap. 22

- Bem, Viramundo, não posso permitir que você fique, porque estamos em guerra... - disse a rainha, recomeçando a discussão. Eu rebatia cada argumento dela, mas ela rebatia cada um dos meus argumentos. Até que ouvimos uma terceira voz entrar no debate.

- Eu o vi matar um corcoromel...

A voz era de 'Seu' Josias e, para minha surpresa, estava a meu favor. A rainha olhou para o plurinogorfo e depois para mim.

- Eu devo dizer que foi impressionante...

Sorri, esperançoso. A rainha quedou-se, pensativa. Enfim, chamou:

- Prosfrustrede!

Um plurinogorfo largo e alto entrou. Seu corpo era listrado das mais diversas cores. Sua cabeça não tinha olhos ou nariz, como eu já tinha visto no cadáver de Ostrede, mas uma faixa preta que parecia girar quando ele se movia.

- Eu faço um desafio: - propôs a rainha. - se você conseguir tocar o rosto de Prosfrustrede antes dele te imobilizar, você vai para nosso treinamento de combate.

Aceitei imediatamente com a cabeça, mas 'Seu' Josias mais uma vez intercedeu a meu favor.

- Prosfrus devia pelo menos assumir as formas de um menino! Assim é injusto!

A rainha concedeu e o plurinogorfo, em instantes, era do meu tamanho. Fiquei confiante, mas 'Seu' Josias continuou resmungando. Não devia ser desafio fácil.

O menino que se tornou o plurinogorfo era gordo como um mini-lutador de sumô. Comecei a me concentrar e olhei meu oponente.

No minuto seguinte, eu estava no chão. Não sei dizer o que aconteceu. Não tive tempo nem de vê-lo se aproximar de mim, mas agora estava deitado sobre ele. Seus braços enrolaram-se em meus braços e soube que era inútil resistir por ali. Concentrei-me em minhas pernas, ainda livres. Dei forte impulso e fiz um rolamento para trás. Acho que o peguei desprevinido. Seu corpo pesado não conseguiu me acompanhar e ele acabou, no desequilíbrio, soltando meu braço esquerdo. Ele ficou deitado e sua mão buscou minha cabeça.

Então foi a minha vez.

O tempo ficou lento e eu pude ver perfeitamente os movimentos de Prosfrus. Evitei seu golpe e girei sobre o braço direito, ainda preso. Ficamos frente a frente. Pus minhas pernas sobre as cochas deles, joelhos por fora, pés por dentro, imoblizando-o. O braço direito preso tornou-se vantagem, pois também anulava o braço dele. Levei meu braço esquerdo em direção ao seu rosto.

E foi a vez dele, novamente.

Ele me puxou pelo braço direito de uma forma que eu não previra e eu me desequilibrei. Num segundo, eu estava com a barriga no chão e ele em cima de mim. Soltei o braço direito e abracei com ele meu próprio pescoço um instante antes dele se jogar em cima das minhas costas.

Eu estava imobilizado. Não conseguia mexer nenhuma parte do corpo. As pernas dele travavam as minhas, o meu braço esquerdo dominado pelo dele.

Mas minha mão direita estava firme em sua bochecha. Ele se jogará em cima dela ao descer.

O plurinogorfo soltou uma exclamação de surpresa. 'Seu' Josias também. A rainha sorriu.

E eu fiquei em Paraíso.