quarta-feira, 9 de julho de 2008

Borboreal - Cap. 21

Enquanto os exércitos marchavam para a luz, alguns em silêncio funéreo, outros cantando cantigas alegres, nós íamos na direção oposta, cercados pelas criaturas que tinham longas antenas como de louva-deuses. Por fim, entramos numa tenda imensa e cheia de aglomerações. A sensação de atravessar a parede de bolha da tenda foi refrescante, como tomar um banho de mangueira no jardim.

Dentro da bolha, passamos por diversas cabanas e barracas, indo para o centro. Os 'antena de louva-deus' iam trocando informações roçando suas antenas nas antenas de outros pelo caminho e as passagens e portas foram sendo abertas, sem que uma palavra audível fosse trocada.

Enfim, entramos numa imensa cabana, de um material que me lembrou as colméias acinzentadas dos marimbondos. No centro, havia um círculo de cadeiras e, numa delas, sentava-se uma linda mulher, de cabelos que variavam entre o negro e o vermelho intenso, dependendo da posição de sua cabeça. Vestia uma bata multi-colorida e calças brancas. De uma tiara com um brilho azulado, em sua cabeça, descia um longo véu que passava por trás do encosto da cadeira e se derramava no chão, como uma cachoeira que derramava suas águas num tranqüilo lago. Seu nome era Anácris e ela era rainha do Paraíso.

Eu me postei na frente dela e me ajoelhei, cometendo minha primeira gafe. Todos me olharam como se eu fosse de outro planeta... 'Seu' Josias me socorreu.

- Está passando mal? - perguntou.

Levantei-me sem graça e me recompus. Então o plurinogorfo contou uma rápida versão da história à rainha.

- Você foi enganado por um menino de doze anos? - ela sorria e olhava para mim. - Mas você precisa voltar...

Tentei encará-la firmemente e minha voz, ao dizer 'não', saiu com a decisão que eu queria. Mas meus olhos se encheram de lágrimas.

- Como é seu nome? - ela perguntou, com suavidade.

O velho problema do nome. Odeio meu nome. Não quero dizê-lo. Quero outro nome. E por que não? Outro mundo, outro nome. Pensei em meus heróis, nas histórias que a babá contava à noite, para que eu dormisse e, por fim, fiz minha escolha.

- Viramundo. - exclamei. E diante do olhar de surpresa de 'Seu' Josias: - Aqui, meu nome é Viramundo.

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