terça-feira, 1 de julho de 2008

Borboreal - Cap. 14

- Sabe o que eu não entendo? - perguntei, dois ou três dias depois - Se os exilados do nosso planeta colonizaram a Terra, como é que ninguém aqui sabe do nosso reino?

- Eles sabem... - respondeu 'Seu' Josias - mas pensam que são mitos... A história, pelo que consta, foi que os primeiros humanos que vieram parar aqui rapidamente descobriram que era impossível manipular o tempo ou a luz dessa dimensão. O que era ruim, mas ao mesmo tempo tornava o ambiente menos atrativo.

O primeiro humano que veio para cá, por exemplo. Tenho certeza de que você já ouviu seu nome. Chamava-se Adão. Ele formou uma pequena colônia e baseou as suas regras e leis na única coisa moldável, nesse planeta: o desejo.

Muito rápido, um de seus seguidores tomou o poder na pequena tribo. Ele confiscava o tempo e a luz que os recém-chegados traziam e, por fim, ninguém mais veio.

Em breve, não havia mais elementos manipuláveis e as gerações foram nos esquecendo aos poucos. Mas a história marcou as lendas...


- Por exemplo?

- Por exemplo, você se lembra como se chama nosso reino?

- Não... - admiti, envergonhado.

- Chama-se Paraíso...

Voltei para casa pensando em magias e milagres. É possível manipular desejos, nesse mundo. Fazia muito sentido, para mim. Um mundo movido a desejo, onde luz e tempo parecem sempre escassos. Não é assim, esse planetinha? Fui para minha aula de caratê com isso na cabeça. Não seria o tempo nem um pouquinho manipulável, nesse planeta? Algumas pessoas afirmavam que conseguiam fazer o tempo passar mais rápido ou mais devagar, mas eu me perguntava se não era apenas impressões que vinham do desejo.

Resolvi testar na aula de caratê. Afinal, se fosse possível manipular um pouco o tempo, minhas reações pareceriam ser as mais rápidas da turma.

Coloquei todo o meu desejo nisso. E era um desejo imenso.

No final de uma semana (eu treinava todos os dias), alguma coisa me parecia acontecer. Meus oponentes pareciam lentos. Eu podia ver suas mãos, vindo em minha direção. Era como se eles lutassem dentro da água. O rio do tempo os envolvia e, agora, eu sabia nadar.

Meu mestre elogiou minha concentração, durante a semana. Será que os sensei sabem que manipulam o tempo? Minimamente, tudo o que é possível nesse planetinha. Contei a ele que o tempo diminuia a velocidade quando eu me concentrava. Ele apenas sorriu.

Um mês depois, eu era faixa laranja.

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