A uruguia não parecia entender o que eu dizia, mas parecia ter inteligência. E medo, ainda. Passou direto por Prosfrus, sobrevoou por cima das árvores da floresta sempre-viva e pousou no topo de uma delas, ficando muito quieta.
Comecei a acariciar sua cabeça. Queria me mostrar seu amigo. Usava com ela técnicas que vi meu pai usar com uma cadelinha que tivéramos alguns anos atrás. Mas eu tinha a impressão que assim que eu saísse de cima dela, ela sumiria para sempre. Eu não podia distingui-la das outras uruguias. Percebi que ela era menor, mas não acho que isso seria suficiente.
O que eu queria mesmo era levá-la para casa.
Ficamos algumas horas por ali, até que ela adormeceu. Abria e fechava o bico e eu pensei que estivesse sonhando com comida. Será que eu poderia conquistá-la, assim?
Desci de suas costas devagar, passando a um galho próximo. Ouvi, ao longe, Prosfrus gritando meu nome. Tudo o que pude pensar foi em descer da árvore, caçar algum animal pequeno e oferecê-lo à Tula (pois, a essa altura, já tinha dado nome à uruguia, o mesmo da cadela de minha infância).
Comecei a descer pelos galhos até o mais baixo. Mas havia uma grande parte do tronco que não tinha galhos. Mais uma vez, toquei as alças da armadura térmica. Daria certo? Havia árvores demais para tentar.
Agarrei-me ao tronco tentando abraçá-lo. A árvore sentiu cócegas e se mexeu. Tula acordou e voou.
Eu a perdi.
Cocei de novo o tronco, tentando engolir minha decepção, e a árvore se dobrou até me deixar no chão. Quando pulei de seu galho, ela se desdobrou violentamente, balançando até parar.
Ainda ouvia os gritos de Prosfrus e os respondi.
Ao ouvir minha voz, ele se pôs a bradar com entusiasmo. 'Domador de pássaros', ele exclamava.
Mas, ao nos encontrarmos, minha expressão não era feliz.
- Ela foi embora... - eu disse.
Ele me abraçou e me atirou para o alto.
- Já sabemos o que fazer. Precisamos só pensar melhor sobre o assunto. - sorriu.
Saímos da floresta em direção às tendas. Eu me sentia orgulhoso e frustrado ao mesmo tempo.
Muitos metros acima de nossas cabeças, Tula nos seguia.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
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