segunda-feira, 7 de julho de 2008

Borboreal - Cap. 19

Tive que tomar fôlego para absorver o que vi. Sob a luz de um sol que nascia atrás de mim (não sei dizer se era o leste, agora que estávamos em outro planeta; pensando bem, nem deve se chamar sol a estrela que ilumina essa terra), vi correndo centenas de animais imensos, com o corpo grande e patas arredondadas, as costas e o lombo cinzentos e as patas esverdeadas. Suas caudas eram grandes e chatas e balançavam tensamente enquanto corriam. Já suas cabeças eram imensas e com fileiras de calombos na linha dos olhos saltados. As bocarras gigantescas tinham dentes que se encaixavam. Era um dos batalhões de crocofantes, eu soube mais tarde, e eles corriam em direção ao nascer da estrela nascente. Eles passavam à minha esquerda, a não mais do que 20 passos.

Algumas dezenas de hominídeos com asas voavam acima dos crocofantes. Eu reconheci suas formas: eram plurinogorfos, parecidos com o que vi morrer em frente ao Colégio Arnaldo, num planeta que ficava cada vez mais distante em minha cabeça. Tinham asas de couro, sem penas, mas não pareciam asas de morcego. Eram multicoloridas, assim como seus corpos. Gritavam palavras de ordem para os crocofantes e trocavam idéias entre si. Eu não tinha certeza se entendia o que falavam, apesar dos sons parecerem conhecidos.

À minha direita, bem mais à distância, encontrava-se uma floresta de árvores altas, com folhas azuladas e prateadas. Por baixo do estampido do correr dos crocofantes, a floresta parecia emitir um som baixo e ritmado, como o revolver de terra. Entre as árvores, via-se grandes quadrúpedes com vários chifres por todo o corpo, a ponto de lembrarem imensos porcos-espinho. Soube que se chamavam Cornocorpóreos. Num movimento sincronizado, vários deles saíram à frente das árvores e rolaram no chão, deixando milhares de buracos no solo. As árvores inclinaram-se para trás e, enquanto os animais voltavam para dentro, dobraram-se com força para frente, catapultando milhares - talvez milhões - de pequenas frutas que cobriram o solo revolvido pelos cornocorpóreos.

Bem à minha frente, haviam as tendas. Eram como grandes bolhas de sabão opacas, algumas solitárias, outras aglomeradas. Seres dos mais diversos entravam e saiam, atravessando as paredes que grudavam-se por instantes aos seus corpos e, ao finalmente se soltarem, voltarem com um leve balançar à posição inicial.

A movimentação era intensa: algo importante acontecia. Além dos crocofantes que continuavam a avançar em direção ao nascente, milhares de outros seres reuniam-se nos mais diversos agrupamentos, e eu pressentia que se preparavam para uma batalha.

Essa foi a primeira volta que dei em torno do corpo em Paraíso, antes de 'Seu' Josias me agarrar pelos ombros, assustado, e perguntar:

- Mas para onde é que você nos trouxe???

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