domingo, 20 de julho de 2008

Borboreal - Cap. 26

Prosfrus era um guerreiro. Imagino também que raramente tenha lidado com crianças e acho que ele nunca realmente se deu conta de que eu tinha 12 anos.

Ou ele certamente não teria me levado a um campo de batalha. Especialmente num dia sanguinolento como aquele.

Mas ele me levou. E qualquer parte de mim na qual ainda havia pureza morreu quando eu saí da floresta e pude ver o final da batalha contra Los.

O cheiro de carne queimada e carvão em brasas enchia o ar. As imensas árvores da floresta sempre-viva que beirava o campo ainda ardiam com um fogo lento e eu estou certo de poder tê-las ouvido gemer. Então vi dezenas de cornocorpóreos estirados. Seus corpos semi-destruídos pelo fogo exalando cheiro de pêlos queimados. Os chifres retorcidos. Alguns com os olhos ainda abertos, vítreos. Outros com buracos crispados ao invés de olhos.

Mais à frente, centenas de crocofantes estavam carbonizados. Plurinogorfos retorcidos pela queda pareciam bonecos de massinha jogados de cima da mesa. Abatidos como insetos voadores, sua visão ainda era pior que a dos crocofantes. Esses eram apenas montes de carvão, enquanto que os plurinogorfos, protegidos do calor pelas armaduras térmicas, eram uma massa disforme avermelhada e cheias de pequenas pontas ósseas.

Segurei a mão de Prosfrus, lembrando-me, subitamente, de minha própria idade. Tive uma confulsão de choro e vomitei até cair de joelhos no chão.

Prosfrus me pegou no colo e me levou de volta para a floresta, desculpando-se insistentemente. Achei que também chorava. Confessou-me ter se descoberto insensível aos corpos depois de tantas batalhas, mas minha reação despertara sua indignação de novo.

Amaldiçoou Los e gritou alto.

Com o seu grito, vi voarem as uruguias. Eram negras e plumosas, grandes como um leão. A maioria levantou vôo do campo e ouvi suas asas batendo, mas algumas sairam de dentro da floresta. Rapidamente alcançaram o céu e eu fiquei as observando, do colo de Prosfrus, que corria.

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