domingo, 29 de junho de 2008

Borboreal - Cap. 12

- E minha mãe? - perguntei a ele, no dia seguinte. Eu me esforçava para atuar normalmente nesse mundo, pois não queria estragar meu próprio disfarce, mas era difícil. Sentia cada vez menos amor pelos terráqueos e saudades de um mundo que eu não conheci, mas que me acompanhava em algum canto fechado de meu inconsciente.

- O que tem sua mãe? - retorquiu 'Seu' Josias, obtuso.

- O que aconteceu com ela depois que me mandou para cá, oras! - respondi, um pouco impaciente.

- A rainha... Não sei... Eu vim para cá com você, não tive mais notícias. Seria perigoso entrar em contato, não acha? Eu só faria isso se você estivesse em perigo. No entanto, acho que alguém entraria em contato se fosse necessário ou se algo realmente ruim tivesse acontecido. A última notícia que tive dela era que ela comandava os exércitos contra Los.

Eu tinha uma espécie de sentimento de culpa por estar distante enquanto meu reino era atacado e usurpado. Passei a fazer exercícios, pedi para aprender caratê aos meus pais adotivos.

- Como é que eu sou tão parecido com os habitantes desse planeta?

- Eu já expliquei: esse planeta foi colonizado pelos exilados de nosso reino...

- Meus pais adotivos sabem?

- Que você não é filho deles? Não...

- Como?

- Você não quer ouvir essa história... - respondeu o plurinogorfo.

Mas eu queria. Então ele me contou...

Quando chegamos aqui, você era um bebê recém-nascido. Você precisava de uma família que, no entanto, não desconfiasse de nada. Ela devia acreditar que você era seu verdadeiro filho.

Então eu fui a uma maternidade e esperei que uma mulher entrasse na sala do parto. Sua mãe adotiva foi a escolhida, pois percebi que a criança que ela trazia no ventre era do seu tamanho. É claro, você já tinha algumas semanas de vida, mas nasceu relativamente pequeno e aquela mulher esperava um bebê de mais de quatro quilos.

Eu assumi o lugar de um dos enfermeiros e entrei na sala, deixando você escondido em uma barriga falsa. Agora, existe essa magia muito perigosa e que dura pouco tempo, mas que é capaz de parar o tempo por um instante rápido. Ela não exatamente pára o tempo como um todo, já que no resto do mundo os fatos continuam a se suceder, mas, dentro daquela sala, eu pude congelar o tempo daquela equipe, rezando para ninguém tentar entrar naquele exato instante.

Assim que o filho de sua mãe adotiva nasceu - o verdadeiro - eu parei o tempo e fiz a troca. E você se tornou 'filho legítimo' de seus pais...

- Uou... - eu disse, sem saber se achava o ato heróico ou monstruoso. - E o que aconteceu com o bebê?

- Eu o engoli... - contou, inseguro, 'Seu' Josias.

Arregalei os olhos. Em minha cabeça, a babá falando sobre o 'homem do saco' voltou, com força de uma revelação. Eu me levantei, instintivamente. 'Seu' Josias sorriu tentando ganhar de volta minha confiança.

- Talvez te interesse mais saber sobre a profecia...

Meu corpo estava tenso, mas minha cabeça registrou as palavras. Por fim, sentei-me, novamente. Ele realmente atiçou minha curiosidade...

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