quarta-feira, 11 de junho de 2008

Mata Verde - Cap. 23

Passo a palavra a meu querido amante, Sebastian Gavião:

"Minha mãe me tirou da escola quando eu tinha 14 anos. Eu chegava em casa espancado todo santo dia. Crianças são bastante cruéis quando encarnam os preconceitos dos adultos.

Aos 18, eu vivia isolado do mundo. Tudo porque minha mãe me teve solteira. Eu não preciso contar ao delegado, ele estava lá. Os filhos dele me surraram diversas vezes. Eu odiava minha mãe por me fazer passar por isso. Parecia que eu e ela éramos as únicas pessoas que estavam todo o tempo sozinhas.

Eu saí andando pela mata, um dia. Vaguei por horas, pensando em me perder pela floresta e nunca mais voltar. Então encontrei algo estranho: uma pilha de animais mortos. Tão ressecados que, a princípio, pensei que fossem cascas de árvore. Eram dezenas, pequenos e grandes, de cachorros do mato a insetos.

No centro, encontrei uma mulher. Ela me parecia morta, mas seu corpo ainda conservava frescor. Era como se ela suasse, seu corpo coberto por uma umidade estranha, viscosa. Concluí que ela dormia e a possuí. E enquanto eu me aproveitava de seu corpo, desejava vingança de cada desgraçado morador de Mata Verde.

Na minha cabeça, a vingança perfeita seria que apenas eu pudesse possuir solidão na cidade...

Todo o resto estaria condenado à eterna companhia ou à morte. E eu gozei naquele corpo desejando intensamente, gritando que eu merecia ser vingado.

Na volta para a cidade, notei que era seguido. Ao me virar, eu a vi. Era a morta, mas em seu verdadeiro estado: decomposta, aterrorizante, definitivamente morta! Corri o quanto pude mas, ao chegar em casa, eu a vi debruçada sobre minha mãe, sugando sua alma, como se chupa uma laranja.

Ela sorriu para mim, a coisa, e me deixou só. Naquela noite, morreram tantas pessoas... O delegado se lembra, com certeza. Foi quando a cidade a conheceu.

Ninguém se lembrou de vir nos checar. Acho que ninguém se importava com a pecadora e seu filho bastardo. Achei que eu morreria sem ver ninguém vir aqui. Sem que ninguém ligasse os pontos.

Mas é tão bom vocês estarem aqui, agora..." Disse meu amante, com um sorriso levemente malvado. "A vingança só é realmente boa quando quem a sofre sabe. Agora vocês podem espalhar para todos que os Gaviões se vingaram dessa maldita cidade!"

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