sexta-feira, 20 de junho de 2008

Borboreal - Cap. 4


Não que sorrisos sejam necessariamente incríveis. Um sorriso pode ser prenúncio de desgraça, como o sorriso do Trio Molequeza, momentos antes.

Mas o sorriso de 'Seu' Josias tinha algo de sobrenatural e bom. Cheguei a cogitar a hipótese de um Papai Noel realmente existir e se disfarçar de mendigo durante o ano, para vigiar as criancinhas. Mas o sorriso não parecia de alguém que está a espreita de garotos para descobrir-lhes pecadinhos. Havia uma pureza que tornava o sorriso encantador. Quase hipnótico.

- Obrigado pela ajuda - balbuciei, e imaginei que ele pensaria que era pela mochila, mas era bem mais do que isso. Era por afastar os Molequeza. E era pelo sorriso.

- Por nada, majestade. - respondeu o homem, começando a voltar para a varanda de minha casa, atrás de seu saco que havia ficado no chão. Colocou-o nas costas, fez uma pequena mesura e saiu assobiando.

Fiquei na varanda olhando-o sumir atrás do muro e nem ouvi a porta abrir atrás de mim. Era a babá.

- O que você ainda está fazendo aí fora, garoto!? Não mandei você entrar? O homem do saco veio me perguntar se você era obediente...

Ela não tinha mais nenhum poder sobre mim. Simples assim, 'Seu' Josias me livrou de uma surra, me deu um sorriso mágico e me libertou do poder da babá.

E ainda fechou minha mochila! (como esquecer?)

"Majestade", pensei, ignorando a babá. Quem não sonhou que era adotado e seus pais eram, na verdade, reis em países distante e mágicos? Principalmente ao ter que passar a tarde com uma babá que queria nos dominar?

Passei a tarde dentro de minha cabeça, sendo majestade (para desespero da babá).

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