quinta-feira, 19 de junho de 2008

Borboreal - Cap. 3

Virando-me, escondi atrás do muro, para sair do campo de visão do homem do saco. Meu coração batia na garganta. Olhei para a esquina. Os três meninos estavam parados, me olhando. Percebi que eles não tinham vindo atrás de mim mas, quando perceberam que eu temia alguma coisa, pude ver seus sorrisos malévolos se abrindo. O baixinho tentou sair correndo, mas foi impedido pelos maiores. Eles começaram a andar devagar em minha direção.

Eu quis correr na direção oposta, mas percebi que meus pés estavam pregados no chão. Eu era o coelho na frente dos faróis do caminhão. Com muito esforço, dei um passo para longe do muro. E outro. Eles estavam bem mais perto, agora. Nossos olhares se fixavam, os deles, brilhando de prazer. Os meus, de medo.

Eles continuaram se aproximando, cada vez mais leves, enquanto eu arrastava pés cada vez mais pesados. Então eles pararam.

Há cerca de dois metros de mim.

E o brilho em seus olhos havia sumido. O que estava lá, agora? Era desconfiança?

Não.

Era medo.

Certamente não era medo de mim.

Eles começaram a correr no momento exato em que eu ouvi o portão de minha casa se abrir. Uma parte de mim, que era otimista e começou a morrer nesse dia, desejou que fosse meu pai. Senti um cheiro ocre, então. E alcoólico.

Uma mão pousou em minhas costas.

- Sua mochila está aberta. - Eu ouvi a voz dizer. Continuei sem me mexer. Era como se a voz de 'Seu' Josias tivesse o poder do cabelo de cobras da medusa. Transformei-me num bloco de pedra e, no entanto, continuei de carne e osso. E medo.

Ouvi - estátuas desse tipo podem ouvir, ficou claro - o som do ziper se fechando, enquanto sentia o repuxar em minha mochila, lento. Desajeitado. Definitivamente, humano. Mantive os olhos abertos, para saber exatamente quando o mundo se apagaria dentro do terrível saco.

'Seu' Josias deu um passo para o lado, satisfeito.

- Prooonto! - Ele disse. E então fez algo incrível.

Ele sorriu.

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