segunda-feira, 23 de junho de 2008

Borboreal - Cap. 7

- Por que majestade?

Perguntei, alguns dias depois. Passei a voltar todos os dias pela Bernardo Guimarães, conversando longamente com 'Seu' Josias, por vezes chegando em casa depois da hora do jantar.

O 'homem do saco' pareceu ficar sem jeito.

- Tudo é majestade! - exclamou, depois de algum tempo e, virando-se para uma planta: - Olá, majestade...

- Eu nunca te vi chamando nada nem ninguém de majestade. A babá, por exemplo, que te dá comida de vez em quando, você chama pelo nome. E eu acho que ganhar comida é importante o suficiente para transformar alguém em majestade...

- É que eu não sei o seu nome... - ele tentou de novo.

- Você sabe tudo da minha vida! Sabe até sobre as fadas! Vai tentar me convencer que não sabe meu nome?

O velho sentou-se embaixo de uma árvore, em frente à velha casa dos Passos, agora abandonada, que ele fazia de lar. A casa, tombada pelo patrimônio histórico de Minas Gerais, estava destruída por dentro (coisa de uma construtura que comprara a casa e queria demoli-la para fazer um prédio).

- Borboreal... - Ele disse, mas eu não compreendi. - O nome não te lembra nada, majestade? É claro que não... Borboreal é um lugar longe daqui. Mas não é longe em termos de distância, ou de tempo, que são as lonjuras que você conhece. Borboreal é longe daqui em termos de dimensões e universos.

E então ele, sem nem se dar conta do jargão, começou:

"Era uma vez..."

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