domingo, 1 de junho de 2008

Mata Verde - Cap. 19

O amor tem um ótimo sexto sentido. Fernanda sabia bem que Ricardo não amava aquela menininha. Sabia disso porque o amor dizia a ela que o tremor nos ombros dele enquanto se afastava era um chorar escondido.

Por isso, ela parou o carro depois da curva, de modo a não ser mais vista, esperou a noite cair e voltou, para descobrir por que estavam prendendo Ricardo naquela cidadezinha.

Era pouco mais de meia noite quando ela entrou nos limites da cidade.

O amor tem um ótimo sexto sentido, mas nenhum senso de auto-preservação, nós sabemos!

Foi interessante notar que eu ainda conseguia falar, depois de minha vida tão selvagem. Achei que ela não me ouviria, mas ela me ouviu. E, mesmo apavorada, fez tudo o que eu queria, antes de morrer.

Ah, como se eu não fosse matar minha sede só porque ela me fez um favor...

O corpo da garota foi encontrado pela manhã.

O delegado entrou na casa de Ricardo e Maria Fé tentando parecer tranqüilo. E, o mais rápido que pode, algemou os dois. Tenho que reconhecer sua inteligência: se Ricardo estivesse solto, correria para mim pensando estar correndo para sua amada.

Maria Fé teve que ficar ajoelhada ao seu lado enquanto ele se agarrava ao corpo ressequido de Fernanda. Foi ela que tirou o bilhete do bolso da morta. Mas respeitou o suficiente Ricardo para entregar-lhe o pedaço de papel.

Em caneta azul (sim, eu preferiria sangue: é uma coisa que acontece ao morrermos: ficamos mais mórbidos), na letra arredondada da garota, havia apenas uma palavra.

"Gavião".

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