Meu fogo ardeu no momento seguinte, o isqueiro de Ricardo dando a ignição. Sebastian levantou-se e tentou andar para trás.
Mas Ricardo não sabia que queimar meu corpo não era o suficiente. Ele não era meu único vínculo com a cidade. Eu não poderia me libertar só com isso.
Por isso, preparei-me para um último beijo: coloquei-me atrás de Sebastian e o esperei virar. Ele então viu meu rosto coberto de água, a boca escancarada cheia de dentes podres, os cabelos dessarrumados e flutuando no espaço sem atmosfera em que eu vivia.
Avancei para ele, minhas mãos geladas e esquálidas buscando seu rosto, minha língua grossa e maligna indo de encontro aos seus lábios. Eu o envolvi e o beijei quando ele abriu a boca para gritar. Tentou fugir de meu espírito e acabou jogando-se em cima do meu corpo, que ardia em chamas.
Fui atrás dele, e as labaredas vermelhas tornaram-se verdes e brancas. O fogo subiu ao consumir os dois amantes que mataram tantas e tantas pessoas na perdida cidade de Mata Verde. Ricardo, Maria Fé e o delegado simplesmente nos olharam queimar, incapazes de reagir. Foi quando Ricardo se deu conta de que havia colocado fogo no meio da floresta.
O fogo começou a cercar os três, obrigando-os a fugir. Não sei o que aconteceu com eles. Não pude segui-los: meu laço havia se rompido. Eu estava livre, enfim...
Essa é a história de Mata Verde. Mas eu não posso terminá-la sem deixar clara a sua lição de moral para todas as crianças, como havia prometido desde o começo.
Crianças: se vocês estiverem se sentindo solitários e injustiçados, se o mundo parecer podre e sua destruição parecer a única coisa correta, não saiam por aí comprando armas e matando seus coleguinhas na escola. Nem tentem se juntar a exércitos terroristas. Pensem na minha história...
E me chamem!
Eu estarei por perto, quando vocês estiverem sozinhos...
FIM
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