domingo, 22 de junho de 2008

Borboreal - Cap. 6

'Seu' Josias me ajudou a catar meus livros espalhados e riu muito quando eu disse "acho que esqueci de fechar a mochila de novo...". Ele me acompanhou até em casa e conversamos sobre a minha vida. No entanto, o que me assustou um pouco, 'Seu' Josias foi quem mais falou. Ele me contou como eu era quando bebê e das agruras que eu passava com a minha babá. Sabia como eu ia na escola e quais meus amigos preferidos. Riu-se das criancices e gafes que eu cometi no passado.

Por fim, me perguntou: - Você ainda acredita em mágica?

Quando eu era pequeno, eu acreditava em fadas porque me lembrava de algumas delas voando sobre o meu berço. Eu tentava alcançá-las com a mão - fadas verdes listradas de amarelo ou vermelhas com rabos azuis - mas elas rodopiavam acima do meu alcance.

Mais tarde, a babá me provou que era um móbile de bichinhos. Foi uma decepção grande (tão grande quanto a mentira do Papai Noel). Tornei-me mais cético, a partir de então. Não acreditava em nada, só na ciência, que para mim se restringia às duas enciclopédias - Delta Júnior e Life - que tínhamos em casa.

Disse a verdade a 'Seu' Josias: eu não acreditava mais em mágica. Mas tinha medo dela. Talvez eu simplesmente não quisesse mais acreditar, como alguém que resolve não acreditar mais em Deus, ou na matemática, o que não fazia tais coisas desaparecerem.

'Seu' Josias gostou da resposta e, como agrado, tirou de seu saco uma pequena caixa. Era prateada e entalhada e muito fria ao toque. Ele disse que a guardasse no bolso e abrisse apenas na hora de dormir.

Chegamos ao portão de casa. A babá me esperava na porta e fez um escândalo ao me ver acompanhado pelo 'homem do saco'. Disse que diria a meus pais que eu estava conversando com estranhos.

- Estranha é você! - eu respondi, atrevido, o que resultou em um banho rápido e ir pra cama às 6h00 da tarde, sem jantar, sem ver meus pais que chegavam à noite do trabalho.

Remoendo a raiva, na cama, esqueci da caixa até que ficou escuro. Percebi que não enxergava mais cores (como acontece quando ficamos de olhos abertos num quarto escuro) e lembrei-me do presente. Levantei, tropecei nas coisas no chão até onde minha calça estava jogada e enfiei a mão no bolso.

Voltei para a cama sofrendo de antecipação: o que haveria na caixa? Minha imaginação começou a tentar se infiltrar em minha razão e eu tentei bravamente barrá-la. É um pequeno sapo! Minha parte racional disse. Ou é um velho ovo de passarinho, tão frágil que parece feito de uma matéria extraterrestre!...

Mas foi minha imaginação que acertou.

Quando, deitado de novo na cama, abri a pequena caixa, de lá escorreram fachos de luz que puseram a nadar em pleno ar, rodando em círculos. Eram verde-amarelos e azuis-vermelhos. Aos poucos, minha visão focou-se nas duas...

Eram as fadas de minha infância.

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