- Gavião não é um pássaro... - disse o delegado, assim que Ricardo contou a ele o que havia no bilhete. - É uma família...
- Achei que todas as famílias aqui tivessem sobrenome de árvore...
- Não é uma família daqui... Helena Gavião chegou em Mata Verde há uns 50 anos.
- E foi quando as mortes começaram! - Ricardo exclamou.
- Não!... - retorquiu Ameixeiras. - As mortes começaram anos depois.
Ricardo balançou a cabeça. Mas os três decidiram visitar os Gaviões. Enquanto caminhávamos - eu tão perto deles que eles podiam sentir meu odor - o delegado Ameixeiras contou a história de Helena Gavião.
- Ela chegou à cidade da forma mais discreta possível. Foi morar numa pensão e procurou trabalho pela cidade toda. A maioria de nós tinha a impressão que ela fugia de alguma coisa e, ao se passarem alguns meses, a cidade entendeu do que.
O delegado coçou o bigode branco e continuou.
- Eu devia ter uns 12 anos quando ela chegou e assim que aquela barriga apareceu, todo mundo da cidade começou a evitá-la. Lembro-me de minha mãe me proibindo de olhar para ela e de fazer perguntas a respeito.
- Ela acabou ficando na cidade - continuou Ameixeiras - empregada da antiga fábrica de adubo, onde passou a morar, num casebre nos fundos do terreno. Dizem que o dono da fábrica abusou dela de todas as formas, o que só aumentou o preconceito da cidade contra ela.
- Eram outros tempos... - tentou se desculpar o delegado, vendo a desaprovação na expressão de Ricardo - e éramos uma cidadezinha tradicional, tentando crescer... A pobre mulher ficou isolada com o filho bastardo, mesmo quando a fábrica fechou, após a morte do dono, uma das primeiras atribuídas a Carapanã.
Odeio essa denominação... Ao longe, crescia a imagem escura e aos escombros da fábrica de adubo.
domingo, 8 de junho de 2008
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